27 de ago. de 2007

CARTA DA IGREJA CATÓLICA EM CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM SOBRE O PRESÍDIO FEDERAL DE SEGURANÇA MÁXIMA

"Estive preso e foste me visitar”
(Mt 25, 26)

1- A Igreja Católica do município de Cachoeiro de Itapemirim e as pessoas de boa vontade, nas diversas instâncias, têm se empenhado pela humanização da Cadeia Pública (DPJ) e do presídio Monte Líbano (Penitenciária), tanto que se vê instituída a APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), a Pastoral Carcerária, o Conselho Municipal para a Execução Penal. É Jesus quem ordena tal posição, pois está na pessoa do preso "Estive preso e foste me visitar" (Mt 25, 26). Sua morte na cruz redimiu toda a humanidade, tirando-a do domínio do pecado e da morte, dando-lhe uma vida nova.
2- Seja pela fé cristã, seja pela reta consciência ou mesmo pela força da Lei, toda sociedade deve reconhecer nos presídios uma grande chaga a ser curada e no criminoso, a pessoa humana a ser restaurada para um frutuoso convívio social.
3- Da possibilidade da instalação de um Presídio Federal em nossa cidade de Cachoeiro de Itapemirim veio à tona o preconceito e a discriminação com relação ao condenado e, sobretudo, às suas famílias, quando se acena o perigo para a segurança, a presença dos familiares dos presos federais na cidade: esses preconceitos devem ser eliminados.
4- A Igreja Católica em Cachoeiro de Itapemirim, na pessoa de seu Bispo Diocesano, Dom Célio de Oliveira Goulart, ofm, afirmou não ser sua bandeira, nem sua luta a criação de um presídio federal nessa cidade. É luta da Igreja ajudar a sociedade assumir sua co-responsabilidade na reeducação dos detentos, entendendo que o mandamento do amor nos leva a enxergar o rosto de Jesus Cristo na pessoa dos encarcerados.
5- Esse posicionamento da Igreja foi injustamente distorcido pelo grupo contrário à construção do Presídio Federal de Segurança Máxima. A Igreja Católica não é contrária ao presídio; muito menos participa desse movimento; nem toma parte de seus argumentos preconceituosos. O posicionamento da Igreja Católica se orienta não para a construção de um presídio, mas para a construção de nova mentalidade e atitude na execução penal. O que preocupa a Igreja não é o prédio a ser construído, mas a forma pedagógica como serão tratados os detentos, dando a eles oportunidade de ressocialização.
6- Nesse sentido, a Igreja Católica vem chamar à razão toda a sociedade para o risco de, insistindo no preconceito, se agravar ainda mais o fosso da exclusão que leva tantas pessoas a mancharem sua dignidade no crime. A Igreja diz não à discriminação dos presos e de suas famílias, à desumanização das cadeias e penitenciárias, à falta de eficazes políticas públicas para segurança e promoção sociais.
7- A sociedade de Cachoeiro deve juntar suas forças para se conseguir as melhorias de nossa cidade. Vamos nos desarmar e com a mesma garra juntar nossas forças para outros projetos importantes de nossa cidade. Em relação ao sistema prisional temos projetos que devem ter prioridades: a reforma do DPJ antigo, dando a ele uma destinação social; a construção do DPJ novo; a reforma da Penitenciária já existente; adaptação do Patronato Monte Líbano para atender ao projeto APAC. Só depois, com a anuência de toda a sociedade se pensar no presídio de segurança máxima.
8- Nós padres queremos mais uma vez conclamar a população que se desarme e assuma seriamente um projeto humano para nossos detentos.

Cachoeiro de Itapemirim, 27 de agosto de 2007.

Assinam:
Dom Célio de Oliveira Goulart, ofm – Bispo Diocesano
Mons. Antônio Rômulo Zagotto
Mons. Jefferson Luiz de Magalhães
Pe. João Batista Maroni
Pe. Rogério Guimarães de Almeida Cunha
Pe. Sérgio Antônio Mariano César
Pe. Genivaldo Marcolan Laquini
Pe. Alci Monteiro Dias
Pe. Edson Carvalho de Melo
Pe. Joselito Ramalho Nogueira
Pe. Ismael Matielo
Pe. Eduardo Sérgio Magalhães
Pe. Geraldo Gomes Leite
Frei Silvestre Brunoro
Frei Celso Moreira Junior
Frei Joaquim Cansian Filho




Fonte:Departamento Diocesano de Comunicação